Mercado

Microsseguros e educação financeira

artigo - 26/08/2011

O Brasil já atingiu um nível de consumo de um país desenvolvido, onde as classes C e D têm contato com produtos e serviços que antes estavam somente no imaginário das famílias. A estabilidade econômica e o crescimento do PIB nos últimos 16 anos possibilitaram um significativo ganho de renda e ascensão social da população brasileira. Essas conquistas podem ganhar sustentabilidade em médio e longo prazo se alicerçadas em ações estratégicas com foco na educação financeira do consumidor.

Um estudo encomendado pela CNseg e divulgado no início do ano apontou que, nos últimos dez anos, aproximadamente 20 milhões de pessoas saíram da linha da miséria no Brasil, passando a ingressar nas classes D, C e B. A expansão da classe C, em especial, é um fenômeno crescente desde o início dos anos 90, mas ganhou fôlego a partir de 2003. Hoje, 105,4 milhões de pessoas formam esse estrato social, equivalente a 55% da população.

O avanço social e o ganho de renda da população se refletem positivamente no consumo, especialmente com a fartura de crédito. Assim, essas famílias vão gastando mais, e, ao mesmo tempo, vão contraindo dívidas. A questão é que esses consumidores não estão poupando porque não têm a cultura de planejamento financeiro.

Três pesquisas - da LCA Consultores, Fecomércio- SP e Serasa Experian - confirmaram que o endividamento do brasileiro atingiu nível recorde em 2011 e a inadimplência está aumentando. O levantamento da LCA apontou que a dívida total das famílias há quase um ano e meio atrás equivalia a 35% da renda anual, ou 4,2 meses de rendimento. Em abril deste ano, subiu para 40% da renda, ou 4,8 meses de rendimento.

Dados da Fecomércio-SP apontam na mesma direção: de janeiro a maio deste ano, em média 64% das famílias que vivem nas 27 capitais do País tinham dívidas, contra 61% em igual período do ano passado. Já o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor constatou que o calote subiu 22% no primeiro semestre de 2011 em relação ao mesmo período do ano passado.

Ou seja, apesar dos ganhos de renda da população brasileira, há indicadores claros de que as dívidas estão abocanhando uma parcela cada vez maior dos rendimentos dos brasileiros. Isso porque esse consumidor ainda não tem a cultura de planejar as finanças e mitigar os riscos.

É nesse contexto que o microsseguro se apresenta como uma alternativa viável, um produto de poupança -e também de educação financeira-que pode garantir e proteger os ganhos de renda e a ascensão social. O microsseguro é um produto de tíquete baixo, voltado para o consumidor com renda de até três salários mínimos, e atende às necessidades dessa população.

Para viabilizar o microsseguro no Brasil, o mercado segurador precisa, além de trabalhar com preços menores, flexibilizar os canais de distribuição e comunicação para falar diretamente com esse público, mostrando a importância de proteger os ganhos de renda e o patrimônio construído pelo trabalhador. Entre outras ações será estratégico o papel do corretor especializado.

Primeiramente, é preciso entender o que esse consumidor quer e fazer com que ele também entenda o mercado segurador para o desenvolvimento de uma modelagem mais adequada para o microsseguro. Assim, é necessário estabelecer um diálogo com esse consumidor, conhecer suas necessidades, mostrar para ele a importância do seguro e criar nele essa cultura. O grande desafio, que vai além da educação financeira, é o da mudança cultural do brasileiro.

Fonte: Brasil Econômico - Solange B.Mendes, diretora da CNSeg