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Energia: apólices do setor estão entre as mais disputadas

concorrência - 15/09/2011

Os programas de seguro das empresas de energia estão entre os mais disputados pelas seguradoras, resseguradoras e corretoras de seguros, instaladas no Brasil ou em qualquer outro país do mundo. A razão para isso é simples. Trata-se de um segmento que concentra muitos contratos - tanto de pequeno como de grande porte -, que vão gerar receita para a indústria de seguros por muitos anos.

"Somente nos últimos 18 meses, estivemos envolvidos em mais de 40 projetos, somando quase R$ 50 bilhões em ativos segurados relacionados à construção de usinas geradoras de energia", conta Rodrigo Belloube, especialista da Munich Re do Brasil. A Munich Re é uma das principais resseguradoras globais na área de energia.

Poucas seguradoras atuam com riscos de energia e a preferência de todas está nos contratos de energias renováveis. "O mercado de seguros no segmento eólico é atraente porque o país não oferece alto risco de catástrofes naturais, como terremotos e furacões que possam derrubar as torres causando perda total, como ocorre por exemplo no Golfo do México", afirma Clemens Freitag, diretor da corretora Aon.

A seguradora já estruturou programas para dez parques eólicos no país no último ano e estima colocar R$ 10 milhões em apólices de seguros nos próximos 12 meses.

No Brasil os riscos naturais são considerados baixos. No entanto, há o risco consequente da falta de infraestrutura para transportar os enormes equipamentos, como turbinas ou hélices das eólicas, até o local de montagem, bem como a dificuldade de implementar os projetos, como mostra a realidade das maiores hidrelétricas do mundo no rio Madeira, Jirau e Belo Monte, que sofrem com atrasos por diversos motivos, como licença ambiental, greves e reorganização acionária, o que agrava o risco dos seguradores.

Ao disponibilizar recursos para um projeto dessa magnitude - as duas apólices estão entre as maiores do mundo -, as seguradoras e resseguradoras comprometem parte do capital disponível. Se o projeto não deslancha, elas perdem dinheiro por ter comprometido parte do capital disponível para bancar um empreendimento que não as remunera. Afinal, o "taxímetro" do seguro só é acionado quando o cliente corre riscos.

A JLT é a corretora responsável pelas apólices de Belo Monte. O programa de resseguros de risco de engenharia é liderado pela Munich Re e conta com 17 resseguradoras ao todo. O resseguro é emitido pelo período da obra, prevista para mais de nove anos, e cobre os R$ 19,9 bilhões orçados para a construção.

Em grandes hidrelétricas, praticamente não há registro de perdas no mercado de seguros, até porque as franquias são elevadas. As principais indenizações pagas no Brasil correm por conta de quebra de máquina, incêndio no gerador, problema na montagem ou queda de raio. A maior parte dos acidentes aconteceu nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), o que fez com que seguradoras deixassem de operar com esse segmento.

Uma delas foi a Allianz, que optou por concentrar seus esforços em energias renováveis. Segundo Edson Toguchi, da Allianz, a saída da seguradora desse nicho se deu em razão da entrada de muitos investidores sem experiência no ramo, o que acabou por gerar um número elevado de acidentes como queda de barragem, alagamento e quebra de máquinas. Consequentemente, a saída foi recuar para garantir capital em negócios com mais chances de ganho.

A Allianz, por exemplo, conquistou metade do seguro garantia nos 72 parques eólicos já leiloados pela Aneel. "Emitimos mais de 35 apólices das garantias, o que nos credencia para o seguro de risco de engenharia do empreendimento", afirma Toguchi.

A RSA, considerada uma das mais especializadas no mundo, pretende dobrar sua participação em energia renovável até 2013, o que significa deter 20% do segmento no Brasil. Segundo Ariel Couto, diretor comercial do grupo, a seguradora fechou o primeiro semestre com cerca de R$ 8 milhões em prêmios contratados no Brasil na área de energia renovável, um valor próximo do volume de vendas de todo o ano passado, quando contabilizou R$ 10 milhões.

Paulo Mantovani, da Marsh, explica a preferência das seguradoras pelas eólicas. "São obras simples, de instalação e montagem, com prazo de um ano de conclusão. Diferente de hidrelétrica, onde o período de risco dos seguradores e resseguradores é bem maior e por um prazo que chega a oito anos. No parque eólico, a construção pode ser concluída em um ano", explica Mantovani.

Além disso, acrescenta o executivo da Aon, com a recessão nos países desenvolvidos, os fabricantes de equipamentos canalizam a sua atenção para o Brasil e, por conta disso, percebe-se uma redução no custo do investimento. "A construção de um parque eólico ficou mais barata - é o que, inclusive, provou o último leilão da Aneel", comenta o especialista.

No entanto, não é tão fácil assim conseguir o seguro. As principais seguradoras de parques eólicos do mundo têm especialistas dedicados a estudar todas as novidades dos fornecedores de equipamentos. "Temos um técnico que fica diariamente em contato com os fornecedores", conta Paul Connoly, da Liberty International Underwriting (LIU), que já abocanhou cinco programas de seguros da construção de eólicas, que envolvem dez parques.

Fonte: Valor Econômico