Notícias

Mercado se reorganiza após turbulências da pandemia

mercado - 08/09/2022

Depois do boom das insurtechs, o mercado segurador brasileiro fez um pit stop para acertar o passo. Ao longo de 2021, as seguradoras vivenciaram um ano tumultuado, mas nada que tire o otimismo dos executivos com o potencial de crescimento do setor. No ano passado, as vendas de seguros de bens e responsabilidades, resseguros e capitalização registraram alta de 2,2%, para R$ 140 bilhões, mas as indenizações pagas cresceram num ritmo maior, de 6,8%, para R$ 73,8 bilhões. Com isso, o lucro registrou queda de 47,5%, segundo dados do Valor 1000.

O sentimento dos principais executivos do setor é de que o pior já passou e a expectativa é de melhora gradual de resultados em 2022 e 2023. “A previsão é de o setor avançar entre 13% e 15% em 2022, mesmo em meio a um cenário de baixo crescimento econômico, inflação elevada, juros em alta e eleições pela frente”, avalia Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros, líder do ranking de seguros do Valor 1000 em lucro em 2021, afirma que o grupo utilizou as experiências e aprendizados para aperfeiçoar a operação, ampliando e aprimorando a gama de produtos, agilizando a contratação e habilitando novos canais de comercialização e relacionamento com o cliente.

Felipe Nascimento, CEO da MAPFRE no Brasil, destacou: “A Covid-19 que assolou o mundo, e circunstâncias adversas, entre elas eventos climáticos e uma guerra, pontos que, inevitavelmente, afetaram a economia global. Mesmo diante deste cenário desafiador, mantemos firme nosso modelo de negócio e registramos um crescimento constante”.

Para Roberto Santos, da Porto, o mercado de seguros como um todo sofre pela combinação entre sinistralidade, aumento de custos de reparo e inadimplência. “E nós, na Porto, já tomamos todas as ações para resolver essas questões”. Além disso, a Azul, empresa que pertence ao grupo, lançou um seguro auto por assinatura, que por meio de uma jornada 100% digital, pode ser contratado sem taxa de adesão, mensalidades de baixo custo e com parcelamento em até 10 vezes sem juros. Segundo o executivo, o plano por assinatura é um produto que busca democratizar o seguro no país e disponibilizar um atendimento acessível para atender os 70% da frota brasileira de automóveis que não possuem seguros.

A BrasilCap, empresa de capitalização do Banco do Brasil, segunda colocada no ranking do Valor 1000, garante que recuperou a liderança de títulos de capitalização no primeiro semestre de 2022, com crescimento de 26% nas vendas, afirma o CEO da BB Seguros, Ullisses Assis. Segundo ele, a revisão do portfolio de produtos abriu mais frentes de atuação. Além do título tradicional, agora a empresa tem produtos atrelados a garantia de crédito, filantropia, fiança aluguel, além de parcerias comerciais para ampliar as vendas fora do canal bancário BB.

A Allianz completou dois anos da compra das operações de auto e massificados da SulAmérica em julho deste ano. Desde novembro de 2020, a seguradora lança inovações em produtos das operações adquiridas, de automóvel, residência, condomínio e empresarial. A maior parte dos aperfeiçoamentos é fruto de demandas dos corretores. “Eles acompanham tendências que agregam valor nos produtos e serviços, deixando-os cada mais simples e flexíveis. São ofertas digitais e simplificadas, com coberturas completas e amplas”, explica Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros. “Queremos seguir com automóvel e continuar crescendo nesse segmento, mas também objetivamos evoluir em outros ramos, como temos feito”.

A Tokio Marine, sexta maior em vendas, registrou em 2021 o melhor desempenho da história da companhia no Brasil, afirma o CEO José Adalberto Ferrara. “E nosso ritmo continua acelerado”, celebra. “Crescemos 42% no primeiro semestre deste ano. Neste período, a produção foi de R$ 5,14 bilhões em prêmios emitidos, com índice combinado (receitas menos despesas) de 99,2%, o que chancela a força dos negócios da Tokio Marine no Brasil. Vale citar ainda que os sinistros pagos chegaram ao montante de R$ 2,54 bilhões nos seis primeiros meses do ano”.

Segundo Tania Heydenreich, CEO interina da Munich Re Brasil, a segunda maior do ranking Valor 1000 de resseguros, a perspectiva para o término de 2022 e 2023 é de um mercado mais técnico, realizando os ajustes necessários para enfrentar o cenário atual. “Temos verificado uma demanda crescente por parte das seguradoras para soluções de capital, ou seja, resseguro tendo como maior motivação a otimização do capital da seguradora”, diz. Outra oportunidade para os resseguradores, segundo ela, é a busca das seguradoras pela diferenciação, como desenvolvimento e precificação de novos produtos que atendam as demandas emergentes do mercado e na revisão dos procedimentos de subscrição nas carteiras que apresentam resultados deficientes.

Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguro Gerais (FenSeg), é um otimista nato, principalmente com o segmento de riscos patrimoniais, que avançou 25% no primeiro semestre, para R$ 10,3 bilhões, e massificados, que subiram 15%, para R$ 6,4 bilhões. Seguro para grandes riscos avançou 39,4%, para R$ 3,4 bilhões, num movimento típico de pré-eleição. “Se olharmos para os índices de penetração do setor na sociedade, veremos que apenas 30% da frota brasileira possui seguro auto e só 16% das casas contam com um seguro residencial. Ainda somos apenas o 18º mercado de seguros do mundo, muito aquém da nossa importância econômica, com uma participação de apenas 0,9% nos prêmios globais. Tudo isso evidencia o potencial do mercado segurador, num Brasil que tende a ter muito mais importância na economia global diante das mudanças geopolíticas, com atração de investimentos, que certamente contarão com um programa de seguros”.

Fonte: Valor Econômico