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Golpistas do seguro

fraudes - 19/05/2011

Com quatro carros em casa e o pagamento do seguro de cada um dos veículos em dia, a advogada Alana Guimarães, 22 anos, a irmã e os pais acreditavam que estariam protegidos em caso de acidentes no trânsito havia cinco anos. O corretor da família, no entanto, que tinha até se tornado uma pessoa próxima, desviava mensalidades de três dos quatro veículos havia pelo menos oito meses. Os moradores do Lago Sul descobriram a armação quando receberam uma carta informando o cancelamento de uma das apólices. Questionado, o profissional disse que o problema era com a seguradora, mas, logo depois, parou de atender o celular. O prejuízo foi de quase R$ 3 mil.

Os parentes de Alana fazem parte de um grupo de pessoas vítimas de uma fraude cada vez mais comum, em que falsos corretores se apropriam do dinheiro das vítimas. São golpistas que, em alguns casos, estão cadastrados em órgãos de fiscalização e credenciados a grandes empresas que vendem apólices de seguro de vida, de veículos, de PREVIDÊNCIA privada complementar e até de imóveis. A Delegacia do Consumidor (Decon) da Polícia Civil do DF registra de 15 a 20 ocorrências do tipo por mês. O número representa quase 30% das queixas que a delegacia recebe a cada 30 dias.

A maioria das vítimas é idosa. Os falsos corretores se aproveitam da boa-fé dos clientes e, em alguns casos, oferecem taxas mais baratas, abaixo do preço de mercado (leia quadro). Quem conta é o delegado adjunto da Decon, Virgílio Ozelani. “Essas pessoas fazem os primeiros depósitos, para ganhar a confiança. Então, é preciso acompanhar os pagamentos de perto”, alertou.

O delegado acrescentou que, para reaver os prejuízos, é preciso denunciar as fraudes. “Investigamos caso a caso para saber se pode ser resolvido na esfera criminal ou cível. É muito frustrante. Algumas vezes, o idoso pode pagar por anos uma PREVIDÊNCIA privada e só descobrir que foi lesado na hora de receber o dinheiro. Às vezes, a pessoa descobre que não tem mais seguro de vida na hora de receber um prêmio ou cobertura para o carro na hora do acidente”, explica.

Existem ainda casos de falsos corretores imobiliários. O procedimento nessa modalidade é diferente, segundo Ozelani. A vítima, geralmente atraída pelo preço de uma casa bem abaixo do de mercado, fecha negócio e paga um sinal. Depois disso, o estelionatário desaparece com o pagamento. A pessoa perde o dinheiro e a compra. “Em qualquer um dos casos, o autor pode responder por estelionato ou apropriação indébita do dinheiro. Vai depender das investigações”, explica o delegado.

Investigar a situação do corretor e da empresa não são os únicos requisitos na hora de adquirir uma apólice ou de fazer um plano de PREVIDÊNCIA privada. O diretor-geral do Instituto de Defesa do Consumidor do DF (Procon), Oswaldo Morais, recomenda uma análise minuciosa do contrato e uma pesquisa de valores. “É preciso olhar tudo, principalmente os dados pessoais. Na hora de pagar o prêmio, a empresa atrasa quando existe algum dado errado. A pessoa que foi lesada deve procurar o Procon e a Superintendência de SEGUROS Privados (SUSEP). Cuidamos da parte de sanar o prejuízo e de reivindicar o que ela tem direito”, afirma.

Depois do golpe, Alana e família ficaram com medo e decidiram não procurar a polícia. O motivo: o corretor tinha dados de todos e conhecia a rotina dos clientes. Ficaram, assim, com medo de represálias. “O corretor pagava as primeiras parcelas e, quando recebíamos a apólice, ele parava de pagar. Descobrimos tudo quando ligamos para os bancos. Tivemos que fazer um novo contrato e perdemos cinco anos de benefícios e de descontos”, lamenta a jovem.

O médico Paulo Sérgio Amaral, 68 anos, fez diferente. O morador do Lago Norte procurou a polícia e o falso corretor que desviava dinheiro de um plano de PREVIDÊNCIA privada acabou preso. Ele descobriu o golpe quando a empresa telefonou para oferecer um seguro de vida. O prejuízo passou de R$ 40 mil. “Ele ficou com todo o dinheiro. Eu fazia o pagamento com cheque cruzado e nominal, mas ele tinha carimbos falsificados e alterava os documentos. Fechamos negócio em 2009, mas só descobri agora. Ele também não me informou que tinha apresentado problemas e tinha sido desligado”, relata.

Fonte: Correio Braziliense